quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Série Past Time

PASSEIO PÚBLICO — poema de Mário Pederneiras

Calmo jardim fechado e antigo,
Que o Sol, de leve, aquece,
E em que a sombra é um abrigo,
Onde o corpo descansa e o espírito repousa…
Aqui dentro, parece,
Vive um pouco da minha mocidade
E alguma coisa
Da vida primitiva e ingênua da cidade.(...)














Jardim de paz, de quietação, de sono,
Sem florações pujantes e vermelhas,
Sem horizontes de calor e brasas,
Sem o rude rumor da cidade grotesca,
Agitada, excitante …






























Jardim de ocaso, de ternura e afago,
De indolência e triste,
De vida interior serena e quieta,
Sem rigores de Sol, que o queime e o tisne.
Sempre na sombra de um Outono imerso,
E onde, eternamente, existe
Poeta!
Para exemplo e ritmo do verso,
O orgulho de um cisne
E a água triste de um Lago.



domingo, 17 de outubro de 2010

Série Past Time

 O Baile

...Vestido de sonhos
me ponho a imaginar;
um imenso salão colorido,
uma dama de vermelho a me fitar,
eu galante, peito a suspirar,
a orquestra e uma valsa por cupido,
eu e você suavemente a rodopiar...

( J.A.Botacini)



















 








...Música ao longe, luzes que se expressam na noite,
etérea é dança feminina, pois musa já nasce bailarina.
No palco da poesia haverá de ser sublime mulher,
para qual o verso será sempre insuficiente.
Entretanto eterno na efemeridade
de seus passos rítmicos, a bailar , a bailar.... 


(Gilberto Brandão Marcon)
















terça-feira, 12 de outubro de 2010

Série Past Time

O meu Natal de antigamente

Quando era menina
não havia Pai Natal nem Árvore de Natal.
Armava-se o presépio com chão de musgo
rochas de cortiça virgem, ervas a valer,
pedrinhas de verdade
e searinhas que se semeavam em pires e latas vazias
no dia 8 de Dezembro
e eram o pequeno milagre o primeiro
a despontar dos grãos de trigo e a crescer todos os dias. (...)

















































No meu Natal de antigamente havia menos presentes.
Os meninos não exigiam esses brinquedos extrabíblicos:
computadores, jogos de computadores, cêdêroms, sei lá.
Nem o Menino Jesus podia com tanto peso!
Sim, porque no meu Natal de antigamente era o Menino Jesus
quem dava as prendas.
Púnhamos, na véspera, o sapatinho na chaminé
mas tínhamos que ir para a cama esperar pela manhã
porque Ele só descia pela calada da noite
se ninguém estivesse à espreita
(hoje o Pai Natal não tem esses pudores). (...)

Teresa Rita Lopes, Afectos,
Lisboa, Editorial Presença, 2000










domingo, 3 de outubro de 2010

Série Past Time

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos! ...

(Mário Quintana)




























segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.














Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.










Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos.



















Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade.

Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.


(Cecília Meireles)